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Perturbação na amamentação: como auxiliar a mãe?

Perturbação na amamentação: como auxiliar?

 

Perturbação na amamentação: como auxiliar a mãe? Vamos falar sobre isso hoje porque precisamos entender como de fato podemos ajudar as mães a tornarem o momento da amamentação prazeroso. A imagem que mais vemos na internet sobre o processo de amamentação é a seguinte: uma mãe feliz e sorridente olhando para seu bebe que mama com tranquilidade.

 

Por mais que a amamentação seja importante e deva ser estimulada, nem sempre a cena retrata essa paz e muitas mulheres possuem sentimentos negativos desencadeados pela amamentação – é o que chamamos de Aversão e Agitação na Amamentação (traduzido do inglês Breastfeeding Aversion and Agitation). É importantíssimo que o profissional de saúde compreenda essa realidade e se prepare para acolher e auxiliar essas mães. Os estudos sobre este tema ainda são escassos, mas compilamos o que a literatura tem a nos ensinar. 

 

Estudo realizado em 2015 no Irã chamado “A Qualitative Study on Negative Emotions Triggered by Breastfeeding; Describing the Phenomenon of Breastfeeding/Nursing Aversion and Agitation in Breastfeeding Mothers” coletou informações de questionário anônimo aplicados a lactantes e divulgado nas redes sociais com as seguintes perguntas: as 6 primeiras eram perguntas de cunho sociodemográfico, 2 perguntavam se a mãe amamentava em tandem e estava grávida e as 2 últimas, se a mãe já havia experimentado aversão e agitação durante a amamentação. Caso a resposta fosse sim para a última pergunta, o questionário solicitava detalhes sobre a experiência. De 694 mulheres que responderam, 70% referiu AAA, sendo que ⅔ delas detalhou o caso, como relatado abaixo. 

 

Sinais e sintomas da perturbação na amamentação

As descrições utilizadas pelas lactantes foram as seguintes: 

  • Sentimentos de raiva e ira (“raiva terrível, odiava amamentar e sensação de desconforto […] e eu me sentia assim quase todas as vezes que amamentava”), 
  • Agitação (“quando meu filho mais velho estava com quase 3 anos, queria fazer o desmame e me sentia agitada todas as vezes que o amamentava”), 
  • Coceira na pele/ arrepios (“quando ela mamava sentia minha pele arrepiar ao ponto de curvar os dedos dos pés, mordia minhas unhas e precisava respirar profundamente”), 
  • Desejo de retirar a criança do peito (“era um desejo súbito que me fazia querer tirar o meu filho do peito imediatamente […] e no final das contas precisava tirá-lo porque não aguentava mais”),
  • Culpa e vergonha: as mães expressaram culpa pelos sentimentos de raiva, porém também desejavam cuidar e alimentar seus filhos. 

 

As ocorrências do AAA variam entre mães, sendo que algumas experimentam desde o inicio da amamentação e sempre que o bebe está no peito, enquanto outras iniciam tardiamente e com menor frequência. A intensidade também é variável: algumas sentem apenas arrepios, enquanto outras chegam a ter pensamentos violentos. 

 

Quem está mais propensa a ter perturbação na amamentação?

Este estudo não conseguiu encontrar correlação em relação a grupos étnicos e idade e nem mesmo houve diferença entre mulheres amamentando uma ou duas crianças e grávidas. Em muitos casos, alguns fatores como cansaço, dor ao amamentar, irritabilidade do infante e retorno do ciclo menstrual estão relacionados.  

 

Possíveis etiologias

É compreensível, apesar de não haver uma relação direta, que mulheres grávidas apresentem AAA, já que é um período de maior sensibilidade nos mamilos e grandes mudanças físicas no corpo, associado a alterações hormonais intensas. Em relação ao retorno do ciclo menstrual, o estudo aponta que talvez essa seja a forma do corpo e da natureza encorajar o desmame devido a queda de nutrientes e desbalanço hormonal. Uma outra questão importante a ser comentada é que lactantes passando por dor na amamentação e recém nascido com frênulo lingual são – certamente – mais propensas a desconforto e estresse, o que poderia desencadear AAA. Aventou-se a hipótese de AAA estar relacionada a níveis elevados de cortisol, cujos níveis sabidamente afetam o temperamento e o desenvolvimento cerebral dos lactentes. 

 

Conclusão do estudo sobre a perturbação na amamentação

Apesar das limitações do estudo, especialmente em virtude dos poucos artigos sobre AAA, foi possível concluir que os sentimentos negativos em relação à amamentação fazem parte da realidade de muitas mulheres e por isso, é imprescindível que profissionais da saúde estejam atentos. Além disso, o artigo defende que novos estudos devem ser conduzidos para compreender a relação entre Aversão e Agitação na Amamentação e depressão pós-parto, história de abuso sexual e características do infante, como frênulo lingual. 

Sabemos que a amamentação – no contexto geral – deve ser estimulada e é uma forma de prover bem estar para o bebe e para a mãe e fortalecer o vínculo entre o binômio. No entanto, precisamos nos atentar às situações em que este processo está sendo, na verdade, fonte de desconforto, negatividade e impedindo o bom relacionamento entre mãe e filho. 

 

Como ajudar mães passando pela perturbação na amamentação?

Primeiramente, é importante acolher essa mãe e orientar a procura de profissionais especializados. Encaminhe para um psiquiatra para avaliar a possibilidade de depressão pós-parto.

Segundo, avalie o processo de amamentação para se assegurar que não há dor, frênulo lingual e fissuras. Além disso, oriente mamadas efetivas e pega adequada para que as mamadas sejam mais espaçadas. 

Terceiro, distrações durante a amamentação podem ajudar: ter pessoas ao redor com quem conversar, ler um livro e assistir televisão podem servir como ferramentas para enganar o cérebro e reduzir os sintomas de aversão.

Quarto, é importante que a mãe descanse o máximo possível. As mulheres, no geral, reconhecem que a AAA piora com o cansaço. 

Quinto, oriente em relação a importância de adequada hidratação e nutrição. O gasto energético para a fabricação do leite é imenso e por isso, é essencial que a mãe esteja adequadamente alimentada e suplementada. Algumas mulheres relatam melhora dos sintomas com suplementação de vitamina B12, magnésio e vitamina D, apesar de nenhum estudo correlacioná-los ao AAA. 

Sexto, reforce a importância da mãe ter um tempo para si, seus hobbies e seu trabalho. Em alguns casos, o que mais incomoda a mãe é a sensação de não ter espaço pessoal por estar constantemente amamentando. 

Sétimo, verifique se não há desbalanços hormonais. Há mulheres que relatam que os sintomas iniciaram após o retorno do ciclo menstrual. 

Oitavo, estimule a lactante a manter um diário dos momentos que sente aversão para que ela reconheça possíveis padrões e fatores desencadeantes. 

Por último, ajude a mãe a compreender que ela não está sozinha! Como profissionais da saúde, devemos estar dispostos a caminhar com nossos pacientes e ajudá-los a alcançar o bem-estar!

 

Referências:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5684792/pdf/IJNMR-22-449.pdf

 

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