Olá, Experts!
De fato, uma das maiores preocupações das mães é em relação ao ganho de peso de seus filhos. E realmente, o ganho de peso é um parâmetro muito importante para a avaliação do desenvolvimento da criança. Muitas vezes, no entanto, o peso da criança não é uma variável satisfatória quando avaliada individualmente.
Para definirmos bem essa questão, é importante que, como Experts, saibamos interpretar a curva atualizada da OMS, de modo a entendermos que sua função é de comparações.
Reforçando a importância de associar tais curvas à individualidade de cada bebê, a OMS publicou em 2006 um estudo multicêntrico entre bebês saudáveis de diferentes continentes, e bebês que foram amamentados no peito. As curvas anteriores (NCHS, CDC) foram baseadas em bebês amamentados com fórmulas, o que não reflete a realidade desejada para uma infância saudável. Percebeu-se então que o grande erro desta curva antiga era que esses bebês tinham maior peso para idade e IMC, porém com maior risco de obesidade no futuro (olha lá um importante início rumo à consolidação científica que o aleitamento materno reflete em proteção de doenças crônicas não transmissíveis, a começar pela obesidade).
Uma outra observação acerca desse estudo é que existem bebês no percentil 3, e isso significa que 3% da população mundial encontra-se neste parâmetro. Logo, nossa interpretação segue o raciocínio de que esse dado não é anormal, nem tão pouco indica baixo peso quando avaliado isoladamente.
Isoladamente, o percentil 3 das curvas da OMS indicam que de todas as crianças avaliadas neste estudo multicêntrico, 3% delas apresentavam aqueles valores naquela tal idade. Entendeu?
Atualmente, temos conhecimento a respeito do quanto o ambiente geral em que a criança está inserida irá afetar diretamente seu desenvolvimento e seu crescimento. Incluindo a amamentação, sabemos o quanto ela influencia na saúde do bebê no âmbito da imunização, e protege a criança contra patologias como dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, obesidade e doenças respiratórias asma e rinite, e principalmente, que o aleitamento materno faz com que os bebês sejam mais magros em comparação aos bebês que são amamentados com fórmula.
Tendo em vista todas essas informações, elaborei alguns passos práticos para nortear as consultas pediátricas de todos vocês.
- 10% (ou qualquer) perda de peso não é igual a suplementação. Por isso, avalie a amamentação. Veja se o bebê suga e engole o leite. Repare se o bebê suga e chora, ou se suga e fica agitado, ou se suga e dorme.É possível que as balanças de marcas diferentes apresentem variações no peso. Portanto, priorize dar atenção para o binômio mamãe e bebê! Avalie a amamentação!
- Não olhe para o relógio. Explique para a família que qualquer tempo relacionado às mamadas não significa nada, quando o mais importante é avaliar a qualidade dessas mamadas!
- Não limite o horário das mamadas. Essa história de que “o bebê tem que se alimentar a cada 3 horas” (ou qualquer outro intervalo de horas) não define o intervalo de fome do bebê.
- Só porque o bebê está sugando o peito, não significa que está conseguindo tirar leite efetivamente!
- Aconselhe a mãe a sempre oferecer as duas mamas. E incentive-a a trocar mais de uma vez durante a mamada caso o bebê comece a chorar ou ficar agitado durante a amamentação. Pois, se o bebê não estiver mamando, efetivamente, no peito, o bebê não recebe o tão falado leite posterior. Mas, alerte a mão para não insistir no processo.
- Fale para a mãe da sua paciente que essa história de oferecer o último lado em que foi amamentado para pegar o leite posterior é mito!
A gordura aumenta proporcionalmente durante a mamada. O que acontece quando o peito está mais cheio é que a proporção de gordura é menor, do que quando não está tão cheio (a gordura tem maior participação no leite nesses casos. Isso significa que mesmo em mamães em que a produção de leite não é tão grande os bebês vão receber o leite rico em gordura também, necessária ao ganho de peso!
Em relação à perda de peso do bebê, tenho 3 recomendações que considero como a base da minha consulta.
- Na maternidade, a maioria das mulheres recebe grande quantidade de líquidos intravenosos (devido ao jejum prolongado), e dessa forma, uma parte desses líquidos são transferidos para o bebê, que nasce edemaciado. Quando a criança nasce, começa a eliminar esses líquidos e retorna ao seu estado de hidratação normal. Assim, a perda de peso do bebê não é relativa ao seu “peso real”, mas é superestimada muitas vezes. É preciso avaliar caso a caso. É preciso individualizar e não generalizar a perda de peso.
- Cuidados com as diferenças de balança! Duas balanças diferentes podem ter uma variação de peso da criança, sem ser real! A maioria dos bebês são pesados ao nascer na sala de parto, e depois na balança da maternidade. Muitas vezes as marcas podem levar a uma alteração de peso significativa. Isso também acontece nos consultórios.
- Existe a possibilidade do bebê não conseguir tirar muito leite do peito, ou mesmo quase nada. Isso relaciona-se com milhares de fatores, mas principalmente a uma pega inadequada. Quanto antes intervirmos, melhor será. O pediatra precisa avaliar nos primeiros dias de vida se mamãe e bebê precisarão de ajuda.
O QUE NÃO DEVEMOS FAZER?
- Não devemos iniciar o complemento para aleitamento materno e dizer à mãe que ela não é capaz de nutrir seu bebê por meio da produção de seu leite.
Nosso papel é instruir e auxiliar a mãe a nutrir seu bebê.
- Existem muitos lugares que oferecem ajuda à amamentação, inclusive sem custo. Se a mãe de seu paciente apresentar dificuldade na produção de leite, estimule-a a procurar os Bancos de Leite Humano da cidade dela, ou em um Hospital com Iniciativa Amiga da Criança.
Como profissionais de saúde de excelência, nossa missão é disponibilizarmos o melhor cuidado possível para cada paciente de forma individualizada. Com isso em mente, precisamos nos guiar com gráficos e diretrizes SIM. Mas, jamais devemos nos acorrentar a numerologia da medicina
Lembre-se sempre: a verdadeira prática baseada em evidências é aquela que sabe associar ciência, conhecimento do profissional e particularidades do paciente
Posso contar com você para cuidar das crianças que são os bens preciosos da nossa sociedade de forma única?
Vem comigo
Um bjo.
Dra Kelly Oliveira