Olá, Ped Experts!
Como vocês estão hoje?
Bom, o conteúdo de hoje é um pouco diferente do que vocês estão acostumados. Sempre procuro equipar vocês com informações que podem ser acrescentadas durante a consulta pediátrica, e assim melhore os cuidados e o relacionamento dos pais com seus filhos. No entanto, hoje vou fazer diferente. Minha intenção é associar o papel do seio da mulher tanto na amamentação, quanto na sexualidade e revelar os impasses psíquicos da mulher que nem sempre são levados em consideração numa consulta pediátrica de acompanhamento durante a amamentação.
O seio é o grande fornecedor de alimento para bebê e também ocupa um importante papel na sexualidade adulta, por seu caráter de zona erógena que participa ativamente dos jogos eróticos de um casal.
Do ponto de vista fisiológico, uma zona erógena concentra uma quantidade de inervações sensoriais que provocam no organismo a excitação sexual preparatória para o coito. Essa característica do corpo se associa a uma representação cultural e psíquica que acompanha cada dupla, família e sociedade como um fator importante que define o sucesso ou insucesso da amamentação.
A santificação da amamentação
Para algumas mulheres, existe uma dissociação muito marcante entre maternidade e sexualidade, fincada na imagem da mãe santa e assexuada que foi repassada entre as gerações antepassadas.
Em função disso, muitas mulheres que amamentam perdem seus desejos sexuais e outras caminham em direção ao desmame precoce por não conseguirem atribuir aos seios uma outra função que não seja de atributo sexual.
As sensações sexuais que podem surgir em virtude do seio representar uma importante zona erógena podem inibir a amamentação pelo desconforto moral que desencadearia.
As terminações nervosas permanecem as mesmas nas duas situações. O que muda é a representação psíquica e toda a concepção mental que vai permitir que a mulher transforme as sensações do aleitamento materno em um prazer de natureza diferente do erótico.
Diferenciação maternal e sensual
Os afetos despertados pela maternidade tornam o contato de amamentar uma experiência de ternura e amor. Mas, tão importante quanto ser capaz de viver e entregar-se à maternidade é poder conservar a sensualidade e o desejo. Algumas mulheres ao se tornarem mães se encantam a tal ponto que aniquilam sua feminilidade sensual, adotando um papel exclusivamente maternal.
Por isso, é fundamental para o aleitamento materno que a mulher diferencie, emocionalmente, os dois tipos de estímulos em seus mamilos, sensual e maternal.
Creio que aprender a diferenciar seja um processo difícil para muitas mães, por conta da associação da sucção do bebê, das rachaduras do seio, dos abscessos mamários com a estimulação erótica. Por isso, ao nos depararmos com uma mãe em período de amamentação, seja no nosso consultório, na reunião de família, ou com amigos, devemos procurar entender o contexto em que esta mamãe se encontra, e assim, instruí-la sobre os impasses que surgem junto com a amamentação.
No entanto, caso a mulher não consiga diferenciar, está tudo bem! Pois, de fato, o aleitamento materno não é para sempre. Por mais que nossa especialização seja focada em crianças, devemos olhar para a família com uma perspectiva macro.
A criança é nosso paciente, e a família também.
Por tanto, o que podemos fazer é tranquilizar a mãe a doar seu corpo em amor ao seu bebê, de acordo com o tempo que ela sentir a necessidade.
Visão psíquica do homem diante do Seio:
A primeira experiência que o homem tem com o seio é na amamentação, e está relacionada à sua convivência com sua mãe. Contudo, para os homens, a visão imaculada do seio é modificada na adolescência pelo caráter da sensualidade que o seio adquire em seu cotidiano, até que então, os seios femininos se tornam respostas de atração sexual e representantes da vida erótica.
Para o pai, além de representante de vida erótica, o seio deve ser a fonte de nutrientes, alimentação e imunidade para seu bebê. Tal divisão de pensamento deve ser realizada de modo que não se perca a atração e sensualidade com o seio, a fim de preservar a admiração sexual entre o casal.
A adversidade que noto entre alguns homens é que eles não conseguem ver a mulher como mãe e também como parceira sexual, porque a imagem materna fica associada à representação da mãe assexuada de sua infância. Diante disso, dificilmente o pai oferecerá suporte para a mãe nos cuidados com a criança ou com as tarefas de casa, pois ele se sentirá deslocado e menosprezado ao admirar o vínculo entre a mãe e o bebê. Todavia, só poderá oferecer essa sustentação se ele não estiver incomodado e impossibilitado de tolerar ser excluído da dualidade mãe e bebê.
É comum os homens apresentarem ciúmes dessa relação do filho com sua esposa, seja porque se sente excluído do prazer que percebe haver entre eles, seja porque precisa temporariamente abster-se da sexualidade genital do casal, que fica ofuscada ante à temporária substituição do prazer erótico genital da mulher pela plenitude que a ternura ocupa em sua sexualidade. Entretanto, esse período também precisa terminar.
A mãe precisa se afastar, ainda que seja gradualmente. E, voltar para a dualidade do casal parental, com o propósito de que o bebê tenha espaço para se desenvolver psiquicamente.
Casal, sensualidade e amamentação.
Não é incomum que o casal que teve recentemente um bebê apresente dificuldades para lidar com as mudanças psíquicas em relação às suas identidades e ao duplo significado que o seio adquire. A suspensão da vida sexual faz parte de um período de adaptação pelo qual passa a família, e que envolve o corpo da mulher em seus hormônios que precisam ser reorganizados. Mas se o casal não retoma a vida sexual, há um estado mútuo de hostilidade e frustração que nem sempre é perceptível ou expressado. Instala-se uma tensão na dinâmica familiar.
Essas divergências permanecem camufladas diante do cuidado e preocupação com o bebê. Alguns casais relatam que a criança, muitas vezes já crescida, só aceita dormir abraçada à mãe, tornando-se uma barreira humana contra a aproximação do homem, o que muito frequentemente causa ressentimentos e ameaçam o relacionamento.
Desse modo, é a atitude de recusa da criança para dormir sozinha somada à aprovação da mãe como sinal de cuidado acentua ainda mais os conflitos do casal.
Agora Ped Experts, é com vocês!
Como falei anteriormente, os pais também são nossos pacientes.
Por essa razão, considero que:
- É importante que o pediatra esteja atento a esses manejos decorrentes dos conflitos mentais para não se aliar a esses engendramentos e poder intervir como ajuda familiar.
- É necessário que o profissional esteja atento ao processo de readaptação e construção das novas identidades tanto de cada um dos pais quanto do casal e da família, perante a chegada de seu novo membro.
- É importante que o pediatra esteja atento a uma postura aparentemente sem transtornos e conflitos no relacionamento da família. O que significa uma impossibilidade do casal de entrar em contato com essas turbulências.
- Cabe ao pediatra observar detalhes em como a mãe se apresenta em seus cuidados pessoais. Essa análise ajuda a diagnosticar a necessidade de uma intervenção mais ativa do profissional e eventualmente de um psicólogo.
- É importante que o pediatra não dissocie os sintomas orgânicos dos fundamentos psicológicos que os acompanham, mesmo que ele não tenha claro os princípios e a criação de cada família, sobretudo à mulher. O pediatra deve supor que as dificuldades são de ordem psíquica, e assim, deve escutar os pais sem minimizar os sintomas e atribuí-los a fatores banais.
Bom, Ped Experts, sei que o conteúdo de hoje foi grande, mas espero que ele tenha sido enriquecedor para o conhecimento dos impasses psíquicos, entre o homem e a mulher quando o assunto envolve a dicotomia do seio como amamentação e como sensualidade.
Curta, compartilhe com seus colegas e comente aqui se você já atendeu pais com dificuldades na vida sexual por conta da amamentação.
Beijo a todos!!!